sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Sobre a autoria...

Cada vez que leio um artigo, um livro ou mesmo um comentário, contemplo com os olhos encharcados de alegria, a dinâmica da sistematicidade. Quantas coisas foram vividas e perdidas no tempo e na história. Quantas coisas bonitas foram extraviadas por não terem sido registradas. E isso deve nos alertar para o compromisso em registrar nossa história, nossas descobertas, o jeito que a gente vê e vive a vida.

Se há um desejo no meu coração de educadora que estimula minha prática é descobrir um jeito de educar para a capacidade da autoria. Educar para a criatividade, para a organização do pensamento, para a autonomia. Num mundo onde se acostuma viver conformado, ficar em silêncio, porque “não adianta mesmo”, perceber o processo que acontece na nossa vida reafirma nossa história e nosso jeito de ser e estar no mundo, como interventores sociais. Na sociedade da informação, onde aprendemos a ser expectadores e quando muito, atores, assumir o risco e ser autores é um desafio e uma emergência. A educação precisa prever condições para que isso aconteça.

Superando a ingenuidade da escrita, percebemos o desafio da autoria como aquela que nasce de um compromisso, de uma argumentação baseada numa fundamentação teórica, de uma vivência. O autor se apodera, rompendo a arrogância, conquistando seu espaço através da sua argumentação, da sua tolerância, do seu jeito de ver, de calar, de perceber o que acontece com ele e em torno dele.

Só se torna autor aquele que é humilde, desapegado, que não quer ser dono do seu saber, que reconhece que o saber é dom e, na gratuidade, espalha seus sonho através das cores e das tintas que revelam seu pensamento. Ele sabe que sua produção precisa ser partilhada, ser alimentada na partilha, na troca, na concordância ou discordância, na tarefa diária de se descobrir sábio e aprendiz ao mesmo tempo. Isso reforça a despretensão de escrevê-la sozinhos. Muitas pessoas são co-autoras. Umas pela própria história, outras que escolhemos, outras ainda que surgem no meio do caminho pela ocasião ou por vontade.

Fica então o gosto de se perceber nessa história, de pegar nas mãos a caneta e escrever. Escrever não para segurar as palavras no papel, mas para registrá-las no coração. Para anotar na memória aquilo que realmente importa. Aquilo que deve ficar ‘marcado’. É fazer a história acontecer.

Leia Almeida

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